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Sobre O Prêmio Jabuti (A Carta Aberta De Sergio Machado) e Outros Exemplos...

Carmen Moreno

REFLEXÕES SOBRE O PRÊMIO JABUTI, A PARTIR DA CARTA DO GRUPO RECORD


Prezados Leitores,

Aproveito o texto ao final desta mensagem (Carta aberta do Grupo Editorial Record sobre o Prêmio Jabuti), para convidá-los a uma importante reflexão.

Infelizmente, a obscuridade das ações neste País resvalou na literatura, maculando-a, afastando dos concursos literários e, portanto, de uma maior visibilidade, obras de qualidade, e escritores que merecem um espaço mais significativo de atuação no mercado editorial. Esta lamentável situação obstrui a já complicada trajetória de incentivo à leitura e à criação literária no Brasil.

Desde 2007, não inscrevo nenhuma obra em concursos literários, certamente desmotivada pela experiência traumática que o prêmio FUNARTE do referido ano me proporcionou. A mim e a tantos escritores, ainda crédulos nessas instituições artísticas. Sou poeta e ficcionista, premiada em diversos gêneros literários, nos âmbitos nacional e internacional. Portanto, não se trata de um depoimento puramente ressentido, mas depois do “caso Funarte”, fiquei bastante desestimulada para os investimentos materiais, de tempo e de energia, exigidos por concursos desse porte: No último dia de inscrição, 10/12/07, cheguei à FUNARTE com um projeto exaustivamente trabalhado, sete exemplares de livros, cinco DVD`s (síntese da minha carreira), ao todo 500 pp. encadernadas, atendendo completamente ao inumano edital.

A funcionária me comunicou que meu projeto, e todos os outros sobre sua mesa e espalhados pelo chão, só seriam encaminhados aos jurados no dia seguinte (11/12/07), e que o resultado seria publicado no Diário Oficial em 12/12/07. Meu trabalho, elaborado com esmero, assim como tantos outros, teria chegado (?) às mãos dos jurados no mesmo dia em que o resultado foi encaminhado à publicação em D.O. Os jurados foram contratados, com dinheiro público, para lerem e analisarem TODOS os projetos por COMPLETO. Nenhuma obra em processo de análise deve ser descartada antes que o estudo seja concluído. Mesmo que esta seja a prática, não deixa por isto de ser desrespeitosa. De que forma 500 projetos, inscritos no referido concurso, foram analisados por cinco jurados em três dias?

Este fato, que chegou aos jornais e à internet na época, provocando grande polêmica, hoje, três anos depois, infelizmente, soma-se a outros, neste Brasil onde os “nomes” vendem livros antes que os mesmos sejam gerados. Os “nomes” garantem espaços na mídia, em prateleiras de destaque nas livrarias, em contratos rápidos e receptivos com editoras, e em indicações para grandes prêmios, independentemente da qualidade de suas criações literárias.

Contudo, os “nomes”, incensados pela imprensa e absorvidos às pressas pelo leitor incauto, ou preguiçoso (o que não quer pesquisar outras riquezas), muitas vezes merecem o retorno valorizado de sua arte, pelo conteúdo das mesmas. No entanto, nem sempre há um vínculo justificável entre a ruidosa aclamação de um título no mercado e seu real valor literário.

Cada vez mais somos uma sociedade dominada pelo poder da imagem, das superfícies, das capas, das cascas e do marketing. O marketing: nada contra esta importante ferramenta. Mas tudo contra a palavrinha anterior: o poder. Este, sim, quando mal compreendido e utilizado, distorce, favorece minorias já privilegiadas, joga com interesses, faz política obscura, desmerece e atrofia a arte, a cultura, o artista e o povo.


Meu assombro é grande com relação a esta desconcertante situação que envolve o Prêmio Jabuti. O maior e mais respeitado do País. Mas espero nunca perder a capacidade de me assombrar. Ela está intimamente ligada à minha crença no ser humano, à minha indignação diante das injustiças, à minha energia de luta, e à minha inesgotável capacidade de sonhar e criar. Abraços, Carmen Moreno A CARTA: Rio de Janeiro, 9 de Novembro de 2010 Exma. Sra. Rosely Boschini - Presidente da Câmara Brasileira do Livro Exmo. Sr. José Luis Goldfarb - Presidente da Comissão do Prêmio Jabuti Prezados Senhores, O Grupo Editorial Record - composto pelas editoras Record, Bertrand, Civilização Brasileira, José Olympio, Best Seller e Verus - decidiu que não participará da próxima edição do Prêmio Jabuti para claramente manifestar sua discordância com os critérios de atribuição do Livro do Ano de ficção e não-ficção. Tais critérios não só permitem como têm sistematicamente conduzido à premiação de obras que não foram agraciadas em seleções prévias do próprio prêmio como as melhores em suas categorias. Como editores preocupados com a Cultura e a ampliação da leitura no Brasil, nós entendemos que um prêmio literário visa a estimular a criação literária reconhecendo-a pelo critério exclusivo da qualidade. Não aceitamos - principalmente em um país como o nosso, onde quase sempre o mérito é posto em segundo plano - que o principal prêmio literário atribuído pelo setor editorial possa ser conferido a um livro que não esteja entre aqueles considerados os melhores em seus respectivos gêneros. Infelizmente, a edição de 2010 do Jabuti não foi a primeira em que essa situação esdrúxula ocorreu. Em outra oportunidade, o mesmo agraciado deste ano preferiu não comparecer à entrega do prêmio, talvez por não se considerar merecedor da distinção. Grande constrangimento na cerimônia. Em 2008, a situação se repetiu, com o agravante de o então vencedor da categoria Melhor Romance do Jabuti ter conquistado também todos os outros prêmios literários conferidos no Brasil. O episódio causou tal estranheza e mal-estar que foi grande a repercussão na imprensa. Na época, passamos a acreditar que seriam feitos os necessários ajustes na premiação para que esses equívocos parassem de ocorrer. Vimos, porém, que os critérios equivocados continuaram em vigor em 2010, com a diferença somente de o autor agraciado desta vez aceitar a láurea. Tomamos então a decisão de não mais compactuar com a comédia de erros. As normas do Jabuti desvirtuam o objetivo de qualquer prêmio, pondo em desigualdade os escritores que não sejam personagens mediáticos. Para não mencionar fato ainda mais grave: quando é evidente que a premiação foi pautada por critérios políticos, sejam da grande política nacional, sejam da pequena política do setor livreiro-editorial. Como a inscrição das obras concorrentes ao Jabuti é um ato voluntário de cada Editora participante, e feito de forma onerosa, optamos não mais participar da premiação, até que as medidas necessárias para a correção de seu rumo sejam adotadas. Atenciosamente, Sergio Machado Presidente Grupo Editorial Record

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