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Registros Literários

Carmen Moreno

Cenas da linda noite em homenagem ao poeta Tanussi Cardoso,

quando foi recitada parte de sua obra rara, por sua irmã Carmen Moreno, Mano

Chevalier Eugênia Henriques e o organizador do evento

Ocupação Poética, de Paulo Sabino.


(18/06/2018)


Coluna

"Parada Obrigatória", de Christovam de Chevalier

Jornal O Globo.

(16/06/2018)





TANUSSI CARDOSO (40 anos de poesia)


Coletânea internacional

MULHERIO PELA PAZ

CARMEN MORENO

participa de mais uma obra (a terceira) do coletivo feminista/ literário


MULHERIO DAS LETRAS.


Organizada por Vanessa Ratton e Alexandra Magalhães Zeiner, a coletânea bilíngue


MULHERIO PELA PAZ

(contos e poesias)

foi lançada dia 08 de março de 2018, no “ IV Sarau da Paz”, em Augsburg, Alemanha.


No Brasil, de 02 a 04 de novembro, no Guarujá.





CERTIFICADO INTERNACIONAL DE PARTICIPAÇÃO

DA NOVA JANELA


Da paz nenhuma palavra se apossa.

Escapa aos ditos, dicionários,

à ambição dos poetas na busca insana do signo.

Talvez este sol roçando a face, a paz.

Trégua das trevas, preguiça do desengano.

A dança da folhagem, calma, silêncio, aragem.

A paz, pedra inegociável!

Aconchego do íntimo, feito um filho a se defender.

(nenhum dano merece seu tremor):

ódio, luto, medo, amor.

A paz, ondas, brevidade.

O espírito de Deus, num átimo - eternidade.


Carmen Moreno (livro: Mulherio pela paz)




ANTOLOGIA DE POESIAS

MULHERIO DAS LETRAS

Organização: Vanessa Ratton

Editora Costelas Felinas

São Paulo, 2017




FÁBULA DA FILHA QUE VIROU MÃE


A mãe não costura mais o vestido da menina magricela.

Que não é mais menina nem magricela. Cresceu por meio século.

A mãe tornou-se filha, quando os passos ficaram miúdos e os cabelos rareados.

Mora na cama do quarto, tangenciando o centenário e seu ônus.

Entre fraldas e enfermeiras, seu sorriso ensina a filha a ser rocha.

Inútil sofrer, temer a data, enfeitá-la para partir serena e sem danos.

A morte é sempre súbita, por mais que bafeje no cangote dos relógios,

e prometa visita sob o martelo dos doutores.

Mas a dita não traz na lápide o fim anunciado:

A mãe nunca partirá, costurada que está na alma da menina,

desdobrada no seu melhor gesto,

nas palavras espalmadas aos carentes de mãe e de sonho.

A mãe não é mais a fala fluida, a casa antiga, os bordados de flor,

a samambaia chorona, o jardim.

Não rega mais as plantas, não planta.

Mas é plena plantação.


Carmen Moreno (Antologia de Poesias Mulherio das Letras)


ANTOLOGIA MULHERIO DAS LETRAS

(contos e crônicas, V. 1)

Organização: Henriette Effenberger.

Apresentação: Maria Valéria Rezende

Editora Mariposa Cartonera

Recife, 2017



SOB A SEMELHANTE SUPERFÍCIE


Não foram as suas cuecas, sempre espalhadas pelo quarto. Nem a última briga ou a soma de todas. Não sabemos o que nos une a uma pessoa e nos afasta de outra. Estou apaixonada. Sinto tristeza antecipada, por saber que vou magoá-lo, e igual prazer por saber que vou magoá-lo. Você está agora no futebol. Chegará suado, músculos lustrados, olhos foscos. Sei que me vê também assim, opaca e silenciosa, carregando pelos cômodos uma incômoda mudez. Você inventou a simplificação dos meus questionamentos: colava a boca na minha, calando-me num beijo que nos levava a outras linguagens. Calávamos um discurso para dar lugar a outro menos contraditório. Uma fuga, um ópio, um esconderijo. Calar-me com seu corpo. Acender-me para apagar-me. Uma arma. Em desuso. Sei que há anos não me quer mais. Descobri naquela noite, mas não consegui terminar meus 16 anos de casamento. Olhei os amantes de longe. Em casa, você tentou banalizar: tudo menos me perder, os homens eram assim, não resistiam! Todos os chavões saltavam da cartola. Um mágico tentando animar a plateia com o velho número dos pombos. Acreditei no truque do ilusionista. Mariana era adolescente, racionalizei a importância de um pai presente. Tinha pânico de estar só e usava nossa filha como pretexto. Estou apaixonada aos cinquenta anos! Nunca imaginei tanta novidade. Aprendemos que, nesta fase, os afetos se resfriam e os sonhos despencam com os seios. Achava que o amor não poderia surgir de uma fonte aparentemente sem mistérios. Que pudesse sentir tanta atração por um corpo tão familiar em desenhos e cheiros, em textura. Desconhecia as sutis diferenças, as que apenas intuímos sob a semelhante superfície. Quando acaricio seu corpo, tão igual ao meu, toco regiões inusitadas da minha feminilidade. Quando nossas saias se confundem sou mais que uma mulher. Sou tudo que não tem nome. Desaprendo o que aprendi. Contrario o que ensinei. Sou apresentada a mim quando ela come meus traços com suas pupilas amorosas. Seguindo seu desejo sou meu desejo. E passo a querer nós duas. Ver-me, assim, por sua ótica de amante, é desvelar em mim o que, sozinha, seria cegueira. Você se perguntará o que um homem teria deixado de dar a uma mulher para levá-la a procurar outra. O que nos afasta de alguém são sempre excessos e faltas. Nossos excessos e nossas faltas levaram você às amantes, e a mim, ao amor. Estou apaixonada. Por enquanto, levo algumas roupas apenas. A buzina! Tenho que ir. O chá está quente sobre o fogão.



CARMEN MORENO (Livros: Sutilezas do Grito, editora Rocco, 1997 e Antologia Mulherio das Letras, editora Mariposa Cartonera, 2017). CARMEN MORENO integra a coletânea AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (Volume 2) Resultado do belo trabalho de Rubens Jardim, seriamente empenhado em garimpar, divulgar e ampliar a projeção das vozes das poetas, em sua diversidade e potência.


(livro digital a ser lançado)


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