POEMA DE COSTAS
Quem me vê de costas sabe mais que o espelho
(de ângulos parcos).
Quem me vê de costas o molejo, o dorso,
a lordose desafinando as vértebras,
os cachos castanhos dos cabelos
esfregando vento nos ombros,
o ritmo dos passos, os calcanhares, o avesso.
Quem me vê de costas:
o vizinho, o inimigo, o amor,
o andante anônimo das ruas me conhecem
mais que meus olhos.
Meus olhos não sabem dos sinais das omoplatas,
de certos pelos íntimos,
da pinta da nuca, da cicatriz do cotovelo.
Quem me vê de costas, o fotógrafo.
A imagem que não reconheço sou eu no porta-retratos.
Quem me vê de costas tem revelações a fazer.
Mas minha alma, devoradora de limites,
minha alma, essa deusa de muitos olhos,
minha alma, sim, sabe de mim.
Carmen Moreno
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