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Carmen Moreno

"Poema para Marielle Franco"



Na calada da noite

calou-se a voz, tocaia.

Toque de recolher a vida.

Ávida, a mulher realçou

rostos invisíveis:

despenteou a brisa,

desabrigou mentiras,

soprou ventanias no marasmo.

Não a morte! Não há morte,

só sementeiras.

Nenhum bem se aterra,

se o gesto fértil se espalha,

e a língua é espada e espanto.

Nenhum carrasco tomba

o canto indomável das sílabas,

nem turva o clarão do sorriso.

Não há terror que impeça

o orvalho nos desertos.


Carmen Moreno



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