Para minha mãe, Carmen Castilho Cardoso, o maior presente que Deus me deu! Minha querida desencarnou aos 98 aninhos:
HERANÇA A mãe está aqui. Transcende o porta-retratos, bordados, vestidos de flor, mechas do cabelo prateado, relíquias para doer depois (nada foi preciso). A mãe está aqui. Incorporal, incorporada à filha. Não mora na saudade. Seria como sentir falta de si, acordar e não ser, inexistir. Todos os beijos foram dados, nenhum gesto arrependido, nenhum socorro negado. Tudo limpo. Desde o berço, abençoado. O coração inteiro é mãe. A brisa, os rios, o brio aprendido, o olhar lançado às manhãs, a vocação pelo sim. O silêncio. Não há terra que enterre a mãe. Não há flores na lápide, nem visita aos mortos no calendário dos vivos. A mãe vive. Viva a mãe! Qualquer gesto é mãe. O que na filha se cala, toda sílaba que emana é mãe, a largueza do sorriso. Gentileza, justeza, jeito festivo, o amor às gentes. Tudo apreendido. Repartido. Multiplicado.
Filmagem do poeta Claudio Leal Cacau
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