Que seja o amor mais que a intimidade dos corpos,
na dança úmida do gozo.
O gozo, que estonteia mas, vapor, se dissolve
no desenlace de coxas e braços, no desapegar de mãos e bocas.
O gozo que, sozinho, não firma o chão do encontro.
Mas, quando transpõe a órbita efêmera dos corpos,
funde as almas.
Que seja o amor o lugar da comunhão de dois mundos –
e que haja nesse encontro um assento cativo
para o desencontro de ideias e gestos,
as diferenças de norte de cada olhar.
Que o outro seja sempre o outro,
na sua plenitude estranha e adorável de Ser único.
Mas que, no folhear dos dias e seus mistérios,
o outro se desmanche no outro,
na liga sólida da paciência e da boa-vontade,
para a superação da inevitável aridez dos dias.
Que seja o amor o alimento do humor, a costura de risos.
Que a alegria prevaleça, no desafio cotidiano dos imprevistos.
E que a previsão seja: encontrar sempre no olhar dos amantes
o brilho de esperança de antes.
Carmen Moreno
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