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Com vocês, “Certezas”. E UM FELIZ DIA DOS PAIS


Amigas (os), compartilho com vocês um poema bem antigo, que escrevi na juventude para ele, o pai! Que há muitos anos já não existe em corpo. O poema foi publicado bem mais tarde, nos livros abaixo. Com vocês, “Certezas”. E UM FELIZ DIA DOS PAIS!

CERTEZAS

Meu pai diz que não erra.

Guarda as palavras no lugar certo.

O chinelo no lugar certo.

O desejo no lugar certo.

Incerto, cerca a vida de certezas:

"Identidade é tudo!

Mulher acompanha o marido.

Essa baianada aí, essa barulheira,

no meu tempo, tinha Chão de Estrelas”.

Meu pai anda pela casa, olhos caídos.

Foi trocador, viajante, dormiu em rede,

apanhou de palmatória,

pegou cobra com a mão no sertão.

Hoje morre de medo. Morre.

Tudo treme quando dorme.

Os fantasmas do que foi, do que não,

do que não...

Diz que sabe da vida:

em que boca deixou o sabor, em que lambida?

Pensa tanto meu pai, cabisbaixo:

mão escorando a testa (requentando dores).

Meu pai é um corpo e nem sabe.

Ama de longe, não pega, não olha.

Quando abraça filho não fagulha,

mas o coração, escondido, incendeia.

Meu pai é uma cadeia.

Quando se deixa trair,

cantando um bolero, se encabula da alegria

(meu pai tem que ser sério).

Tem sorriso de lado, enviesado,

charmoso até.

Tem um dente de ouro na frente.

Meu pai chora à toa vendo novela,

e explode se a comida demorou.

Gosta de tango, disse que dançou na Lapa,

bebeu com Aracy, sonhou em copos.

Tem mais de setenta (meu pai podia ter nascido).

Tem orgulho da gaveta de remédios

e medica os vizinhos. Meu pai podia ser médico.

Podia ser crítico, podia ser político, podia ser feliz.

Carmen Moreno

Livros “Loja de Amores Usados”, Editora Multifoco,2010 e “Poesia Fora da Ordem” (Concurso Nacional de Poesia Prêmio Caetano Veloso), Editoras STIEP, AEPET, SINDIQQUÍMICA, CUT. Apoio Fundação Gregório de Mattos, 1993.

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