Como dormem aqueles cuja consciência foi vendida? Arrematada no leilão rastejante dos egos? No varejão das mentiras e omissões bem trajadas? Nas promoções de fim de feira da humanidade, onde os restos são amealhados pelos famintos de poder?
O travesseiro, objeto tão próximo da alma, tão íntimo do coração dos homens e de suas verdades inconfessáveis... Como conseguem repousar a cabeça neste colo aconchegante, e ceder ao sono, esses homens? Mesmo na penumbra de seus quartos blindados, como dormem esses homens, entregues à delicada plumagem de seus travesseiros alto luxo?
Não pode ter sono tranquilo essa gente que dribla a verdade inconteste de multidões, para impor, com um martelo cego, seu trono provisório. Abençoada transitoriedade desses tronos, sobre os quais essa gente se instala, com a crença insana na eternidade.
Contudo, fora os ganhos simbólicos (estes inegociáveis) da luta dos educadores, consola-me saber que os devastadores da Educação não sairão incólumes, pois quando compactuamos com uma grande mentira, por mais lúcidos, por mais conscientes do ato ilícito, a culpa nos invade, sorrateira, enlameando nossa autoimagem. Como roedores no silêncio da casa, como uma conspiração de cupins descarnando nossa pureza e coragem.
Carmen Moreno
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